segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Existe um grande sol, batendo nas grandes pessoas.


Tô com saudade dos teus cabelos cumpridos em volta da tua cabeça, assim como vários devaneios repletos de inocência.
To com saudade das noites em claro tentando desvendar os mistérios que dançavam ao nosso redor, e que rindo cantavam nossas cantigas de ninar.
Cruas verdades. Risonhas centelhas de mentira.

Saudade de cantar poetas decaídos, de sentir saudades de tempos longínquos e inexistentes.
Saudade de palavras e letras que hoje me negam seu sabor, e sua cor que, apesar de muito olhada  já não desbota, se torna sagrada.
Sinto saudade do concreto que amávamos como sendo mágico.

*** 

Paixão não preenche, mas engana o estomago.
Cor não dá vida, mas reluz em meio às trevas.
Luz não se segura, mas se aumenta.
Vermelho não é minha cor preferida, mas serve.  

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Tem pena d'eu


Sentia saudades de seus frutos. De seus filhos pródigos, que em verdade, te digo que nada lhe davam além de temor.
Sentia falta do ar em demasia, que sufocante, acariciava seu peito.
Corria, centímetros e centímetros, e em sôfrego desespero acabava sempre por cair, sem alcançar nem mesmo o menor de seus pequeninos. Sem conseguir alçar voo, sentava-se sobre seu próprio caos e debulhava-se em lágrimas.
E no meio desse desespero, esquecia-se se já era homem ou menino, perdia-se em devaneios tão tolos quanto lisonjeiros.
Encolhia-se até não mais parecer gente, na esperança de assim a terra lhe engolir e dele, algo de belo nascer, uma rosa talvez, qualquer coisa melhor do que fora e dera sua vida inteira. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

695


Olhos risonhos.
Observam
Pequeno pedaço de céu.
Desafiou o chão, e em cima dele dançava.
Flutuava.
Alegre como uma película de 1920.
Como Corina , me encantas.
Como artista me deténs
Diante de teu tamanho,
Meu tabernáculo torna-se quase alado.
Olhos tristonhos despedem-se.
Carregam o peso de lagunas de doce pesar.
Vou m’embora,
De ti carrego o frescor, o amor que de ti viverei em meu âmago. 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Moça


Ponderai em vosso peito – que agora carrega o sereno cinza celeste – o dia que jaz calmo sob vossos pés.
Carregais flores plantadas por damas vestidas de negro, cansadas da viuvez, fartas de poesias de amor, quando tudo que tem são saudades.
Dançaram livres em outras épocas os vossos votos. Rodopiavam arraigados a vossos pés, em vossos braços a salvo.  Eram tempos de chuva, de nutrir os jovens e renovar os velhos. Eram tempos de abraços, e beijos e calores maiores do que o de um só ser. Eram tempos de grandes alegrias e pesares. Eram todas as coisas por inteiro, todas as faces coradas de tanta luz e tanto sentimento.
Era época de ciganos, de circos e fantasias. De magia, efêmera, mas doce. Repentina, mas inspiradora.
Hoje, porém, poucos de vós ainda respiram sem que seja em sintonia, sem que leve aos pulmões o ar de vosso vizinho  Hoje poucos restaram. Sobreviveram ao desamor, a alegria que não é continua, ao rosto que envelhece, ao cântico que perde a voz.
Hoje, quem canta canções de redenção são os jovens, enquanto aos poucos, os velhos são plantados como raras sementes.  

sábado, 18 de agosto de 2012

Quem de dentro de si não sai.



[...]

- Posso eu ignorar meus pais, que por mim morreram há décadas em tamanhas tribulações?
- Teus pais são aqueles que te conceberam e te deram à luz, que te criaram em amor e harmonia. Se quiseres chamar de pais aqueles por pela tua liberdade morreram entendo, mas saiba que eles nem ao menos pensavam em ti.
- Quem exige mudança pensa nos dias que virão, não nos que já passaram.
- Então não exiges tanta mudança quanto acreditas. Culpas os que não partilham da tua fome por liberdade, e condenas os que já nem vivem sobre a mesma terra que tu.
- Não admito que me chames de hipócrita. Que fazes tu todos os dias andando sem rumo? Não me encantas mais com teu canto, ele apenas sobe aos céus, não move ninguém.
- Move meus próprios pés. Não mudarás nada enquanto quiseres mudar teu semelhante. Apenas o teu próprio coração tua mudança alcança. Menino, tuas atos falam mais do que tuas palavras carregadas de furor. Olha à tua volta, quantas vezes franzes tua testa olhando os corpos atirados pelas ruas, estejam eles vivos ou mortos? Quantas vezes lamentas a fome que corrói e mata nossas crianças? E que fazes além de lamentar, além de proclamar tamanha crueldade? Olhas apenas para o poder centralizado, que oprime e engole tudo que vê. Não percebes que em tua ânsia de justiça dás as costas a quem mais próximo de ti está, aqueles que tu podes realmente trazer de volta a vida. Não te julgues tão alto, não permitas que teus olhos apenas alcancem o trono, existe mais do que isso, quem ao teu lado vive e de tuas mãos precisa mais do que tuas palavras. Revolução não é uma revolta cega. Quem tem fome não consegue lutar.  



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Filho de flor


Desconheço o real propósito de minhas palavras que em teus ouvidos suplicam lugar.
Sei que em teu desamor julgaste-me desmerecedora de tua poesia, e em meu peito arde o desejo de a ti direcionar meus clamores.
Rogo-te que em algum de teus passos tu olhes para mim e percebas em meu andar torto e já recomposto tuas palavras, teus trejeitos.
Quero que fiques, que venhas e em mim te instales. Que em meu peito faças morada, que à beira de meu leito, observes meu sono e que nele, tu vivas claro, sonoro.
Quero que sob meus pés estejam os teus. Que dances comigo, que me apertes contra teus sentidos, que me segures e não me permitas dar-te as costas novamente.
Que me perdoes, e que teu perdão sirva de redenção aos meus pesares.
Se assim desejares. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Solis


[...]

- Desagrada-me teu desapego. 
- Desagrada-me a cor de teus olhos, mas ainda assim os possuis.  

Deixai que de minhas nódoas cuido eu!


Pelas esquinas que dobrei à tua espera.
Pelas noites que em claro ofuscavam meus dogmas.
Pelas chamas que te poderiam iluminar.
Pela areia das ampulhetas jogadas contra ti.
Pelos anjos que por entre teus dedos morreram.
Pelo espectro que todas as noites me observava.
Pela cor de teus olhos.
Pelas verdades cantadas por entre dentes.
Pela saudade que de ti eu anseio sentir. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

"Poeta da vida"


Andei dentro de horas e olhos, donos de cores e frangalhos desafiadores.
Viajei em trens e tralhas.
Alimentei traças como velhos livros o fazem.
Vesti os nus como o puro amor o faz. Servi de sol, de calor, de leito e de pranto.  
Fui apertado por entre lábios e dedos. Desbotei. Tornei-me inodoro, inaudível, desgostoso de tão saboreado que fui.
Enquanto regressavam para conhecer-me, eu à frente conclamava hinos de liberdade. Enquanto voltavam ao meu lar, eu à frente estava sozinho e desolado. Por que raios não me ouviam? Por que tateavam o nada à minha procura?






terça-feira, 10 de julho de 2012

Pincel verde


"Sem foto de despedida surrupiaste de mim um sorriso embebido de ternura, amanhecido por brisas vindas de um céu semelhante ao que me habitava.
Entre frutas e flores surgiu um circulo eterno, repleto de centelhas e serenas promessas." 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Valsa triste

É aquela mesma sensação de início. Seja o início de um livro que te prendeu da capa ao fim, seja a frase de um mero desconhecido, seja o início de uma vela que observas queimar até seu fim. Seja o movimento da tua saia em volta de ti enquanto rodopias de pés descalços e mente alta.
É aquela inspiração em demasia, o ar em excesso. A música que toca a fresta mais escondida do teu espírito. É a dança que te faz mexer o mais insignificante centímetro de teu corpo, é a poesia mais triste, o sentimento mais efêmero e intenso, é a voz mais grave e doce, a luz que mais longe vai, a imensidão que se estende diante de teus olhos.
É o amor que não escolhe, a paixão que não suporta, a beleza que não dura, a vontade que não acaba, a vida que é ditada por bocas desconhecidas, o ser que não está aqui.
É a gaita que chora no ombro do violão, a arte que desconhece a razão, a cor que de tanto ser olhada desbota, o som que de tanto ser ouvido se cala. É o liquido que eleva sem lembrar-te da queda, a fumaça que envolve sem estar presente A vida que desconhece os dias, a boca que desconhece o beijo, a emoção que anda de mãos dadas com a frieza. O conselho saído da boca do indulgente, o hino mais eloqüente. A mão mais ávida em abrir-se, os pés que tem como combustível a estrada, os olhos que tem como sua menina a vida. O poeta que como musa tem o intocável. O romance que não precisa de dois. O céu que chora seu azul, os fragmentos daqueles que se doam sem esperar seus pedaços de volta. As pessoas conhecidas em curvas inesperadas, os planos jogados pro alto, os mapas em palmas de mãos. As vontades escondidas, os esconderijos descobertos, a multidão que segue só, o alimento que não sacia.
O corpo que clama por espírito.

sábado, 23 de junho de 2012

"Entre os dentes segura a primavera"

[...]

- Te envergonhas por dedicar a vida à tua crença. Como podes cair desta forma?
- Sou fiel aos meus princípios, não presumas tu a minha fraqueza.
- Se fidelidade fosse o teu forte não terias tanto receio em falar daquilo que amas. Não sejas tolo menino, não te percas nos passos de teus semelhantes.
- Como ousas falar de meu espírito com tanta presunção?
- Não falo de teu espírito apenas. Conheço os pesares do meu, e sei quão árduos são os anseios como os que vejo em teus olhos. Meu filho, paixão não é alimento e teus dias não são em vão.
- Já me disseste isso, e sinceramente  te sou grato, mas de que me serve o que não sinto?
- Te serve de chão quando não sentires nada do que tens. Por vezes em tua gana de enxergar, não vês que a conseqüência de teus atos é imensamente maior do que tu. Lembres sempre que a vida que escolheste, que amas e com tamanha força carregas, cativa em teus irmãos o desejo de serem melhores. Não sacrifiques o que não precisas, mas does o que tens e em todos os lados verás refletido o amor. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

"Revoluir"

Servirás a teus semelhantes somente quando fores mais mãos do que lábios. Quando teu ímpeto for maior do que o espaço que ocupas no tempo. Não falta-te amor, não falta-te desejo de amar e nem um coração pulsante para isso. Sobra-te palavras ditas com uma reverência que não passam da redoma que te cerca, desde o dia em que ao mundo vieste.

"Sabor de música divina"

Onde está a cor de teus olhos criança?
Onde tem repousado teu sorriso?
Mais uma vez, teu orgulho afastou-te de teu amor. Teu ócio cobriu-te como o véu que antes te era nítido.
Sabes que nada és sem o que dizes amar, e ainda assim, apenas o dizes.
Que quando despertares deste teu conveniente sono, ainda tenhas teus olhos. Que nenhum pedaço te falte e que teus sentidos te sejam fiéis apesar de tu não  lhes destinar tua atenção agora.
Não sejas tola por muito tempo. Não impeças o céu de iluminar tuas frestas.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Lua de Smália

Envolve-me tua nuvem, e por entre águas turbulentas alimentas meu âmago com destreza.
Quero despedir-me de ti, de teu amargo afeto... Mas puxa-me a tua gaita, os teus olhos! O teu canto repleto de pesar.
O doce dos lábios inspiradores de ontem, hoje torna-se amarga nostalgia. Embala-me em teu colo com um sorriso de triunfo nos lábios. Desespera meus sentidos com as densas madeixas que tapam meus olhos.

Ordeno-te agora que te afastes de meus pés, não ouse tocar minhas raízes, não queiras tu ver o que a ti posso fazer se sujares meu chão novamente.
 

domingo, 17 de junho de 2012

Por entre quimeras e esperas.

[...]

- Conheces tu um campo de guerra?
- Sabes que não, mas conheço meus desejos, e eles por vezes me devoram.
- Que tem a ver teus desejos com as vidas que são tiradas sem misericórdia de ao menos morrerem com os seus.
- Guerras são frutos de desejos sôfregos. Vejo nos olhos dos que têm poder em mãos e amores sob a sola de seus sapatos o que por vezes habita meu peito.
- Não és como eles.
- Mas poderia ser. Controlo minhas vontades pela capacidade que me foi dada de perceber que meus atos mesmo sendo meus, atingem qualquer um que ao meu redor estiver, e apenas isso me diferencia.
- Proteges aqueles que amas e lutas por aqueles que nem ao menos conhecesses. Não permito que defendas o que te abomina.
- Eles não precisam de defesa, ainda menos da minha. Mas quero que percebas que nós, em nossa sede por justiça, somos tão frágeis quantos eles em sua sede por poder.
- Sabes que justiça é poder e que ela é muito mais plena de certeza  e beleza do que os conceitos daqueles que cospem hipocrisia.
- Então somos ainda mais semelhantes. Estamos todos sedentos por poder. Te peço apenas que não me deixes esquecer o propósito do poder que almejo. Não me deixes seguir em guerra quando justiça for realidade e não desejo, um anseio. Não me deixes falar de meus ideais sem amor, se o fizer em algum de meus dias, terei a amargura dos jovens.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

"Mártir da hipocrisia ou da virtude."

"Sinto-me" falta de ser, diferente de sobreviver, estar.
Sinto em minhas veias a dor dos que antes de mim possuíram esse sangue. Vejo em olhos estranhos o calor que carece às minhas velhas e já quase corroídas retinas.
Vejo nas ruas, no chão das mais sujas ruas  pedaços largados, quebrados de vidas que nem ao menos conheci em seu estado de alegria.
Pés que não precisam de chão para caminhar seus passos tortos e sem metria nenhuma, mas com maestria em olhares risonhos. Mãos petrificadas que acariciam pensamentos flutuantes.
Cicatrizes tomam para si tudo que habita corpos frágeis demais, frios demais, desimportantes de menos. 

"Acreditarias tu que eu mesmo já amei e fui amado?
Sabes tu que do ventre de uma mulher saí e que por ela fui alimentado?
Conheces tu os filhos de meus amores?
Nada sabes, não creias em tua própria soberania, ela só foi erguida pelos pesares que não viveste.
Teu corpo pode deixar-te, assim como o meu o faz há anos."